Ex-miss EUA escreveu sobre ataque de trolls e dificuldades de envelhecer antes de trágica morte
A trágica morte da ex-Miss EUA Cheslie Kryst acabou ganhando traços mais dramáticos quando um texto seu publicado ano passado foi resgatado por fãs e seguidores. No comovente ensaio, a modelo e advogada fez uma reflexão sobre a pressão que sofria por envelhecer e dos recorrentes ataques de trolls sofridos nas redes sociais.
A hipótese trabalhada pela polícia é a de que Cheslie tenha pulado do arranha-céu onde morava na cidade de Nova York. Apesar de morar no nono andar, a ex-miss EUA foi vista pela última vez em um terraço no 29º piso, de onde teria se jogado na manhã do último domingo.
Em suas reflexões, publicadas no site Allure, Cheslie falou sobre as próprias expectativas que se impunha, reconhecendo que “quase trabalhou até a morte”. “Descobri que a pergunta mais importante do mundo, especialmente quando perguntada repetidamente e respondida com franqueza, é: por quê?”, escreveu Kryst sobre sua mudança de pensamento. “Por que trabalhar tanto para capturar os sonhos que a sociedade me ensinou a querer quando continuo a encontrar apenas o vazio?”, questionou.
Kryst foi a concorrente mais velha a conquistar o Miss EUA, com 28 anos. O fato fez com que espectadores e fãs do concurso pedissem – inexplicavelmente – para que o limite de idade das participantes fosse baixado. “Um olhar sorridente e enrugado para minhas conquistas até agora me deixa tonta por preparar as bases para mais, mas fazer 30 anos parece um lembrete frio de que estou ficando sem tempo para ser importante aos olhos da sociedade – e é enfurecedor”, ela escreveu.
Além da idade, a composição corporal da modelo foi alvo de ataques na internet. Cheslie se tornou miss com seus 1,70m e forma física invejável de onde se destacavam seus músculos definidos e os cabelos com cachos naturais. Longe do padrão de beleza – principalmente dos concursos americanos – ela revelou acabou sendo atacada nas redes por sua aparência. “Meu desafio ao status quo certamente chamou a atenção dos trolls, e eu não posso dizer quantas vezes eu deletei comentários em minhas páginas nas redes sociais que tinham emojis de vômito e insultos me dizendo que eu não era bonita o suficiente para ser. Miss EUA ou que minha constituição muscular era na verdade um ‘corpo de homem’”, escreveu ela.
O texto acabou indo de encontro e formando uma triste e única peça quando reunido com a última postagem da modelo, que escreveu, antes de cair do prédio, a frase: “Que este dia lhe traga descanso e paz”. Se por um lado a frase soa enigmática, por outro ela expõe o peso que a toxicidade da cultura da beleza e das redes sociais podem exercer de forma trágica em uma pessoa.
Ainda no texto, Kryst fala sobre um drama comum a muitas pessoas, mas que é um tanto mais intenso e cruel com ex-participantes de concursos de beleza: a idade. “Muitos de nós se permitem ser medidos por um padrão que alguns se recusam severamente a desafiar e outros simplesmente concordam porque se encaixar e seguir o fluxo é mais fácil do que remar contra a corrente”, continuou. “Cada vez que digo ‘vou fazer 30 anos’, me encolho um pouco”, escreveu ela. “Às vezes consigo mascarar com sucesso essa resposta desconfortável com entusiasmo; outras vezes, meu entusiasmo parece vazio, como uma atuação ruim. A sociedade nunca foi gentil com aqueles que envelhecem, especialmente as mulheres. (Exceções ocasionais são feitas para algumas ricas e algumas famosas”, refletiu.
“Eu lutei essa luta antes e é a batalha que estou travando atualmente com 30”, escreveu ela. “Como faço para abalar as normas inabaláveis da sociedade quando estou enfrentando o implacável tique-taque do tempo? É a velha questão: o que acontece quando o ‘imóvel’ encontra o ‘imparável?'”, perguntou.