O vendedor de balas Hiago Bastos, de 22 anos, morto por um policial de folga na tarde desta segunda-feira (14), foi agredido por seguranças do shopping Bay Market, em Niterói, em 2019. Na ocasião, os seguranças foram filmados imobilizando e agredindo o rapaz em dos corredores do centro comercial.
A confusão teria começado porque o jovem se recusou a sair do shopping. Os seguranças imobilizaram o rapaz, mas ele resistiu, e um dos vigilantes chegou a chutá-lo, como mostra a imagem.
“O Hiago vendia balas no interior do shopping. Acharam que ele concorria com as lojas e decidiram expulsá-lo. Só que foi dessa forma agressiva”, contou o advogado Roberto Gatti, que acompanhou o vendedor à delegacia na época por integrar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói.
Quando menor, Hiago teve passagens pela polícia por praticar roubos, furtos e até ameaças a turistas. Para Roberto Gatti, esse histórico pode ter criado uma espécie de preconceito contra o rapaz.
Hiago também já respondeu a acusação de tentativa de homicídio. Não havia mandado de prisão aberto no nome dele nesta segunda.
Pouco mais de 500 metros separam o shopping onde o vendedor foi agredido em 2019 do local onde ele foi morto nesta segunda-feira.
“É possível que ele tenha ficado marcado. Ele era conhecido dos policiais e tanto as barcas como o shopping ficam próximos um do outro”, explicou.
Hiago Bastos, de 22 anos, foi morto em frente à estação das Barcas em Niterói — Foto: Reprodução
‘Documentos para averiguação’
Em 27 de setembro passado, Hiago foi abordado por dois policiais que patrulhavam a pé a praça Arariboia, no Centro de Niterói. No mesmo lugar onde ele diariamente vendia balas e que foi morto.
Por volta das 16h35, a dupla de PMs abordou dois homens para “averiguar os documentos”. Segundo o relato no registro de ocorrência da 76ª DP (Centro de Niterói), mais a frente estava Hiago, que se afastou ao ver abordagem policial.
Depois que os policiais liberaram os dois homens, eles perguntaram se Hiago tinha documento de identidade para averiguação. Segundo o relato policial, o vendedor respondeu de “forma agressiva perguntando se a guarnição não tinha o que fazer”.
Nesta hora, segundo o policial Hiago tentou morder o seu braço, o que se repetiu após ele se desvencilhar nas duas ocasiões.
Como Hiago resistia, segundo o policial, foi necessário imobilizá-lo, o que levou ele a se machucar.
Roberto Gatti, então, na Comissão de Direitos Humanos da OAB, reencontrou Hiago Bastos, cercado pelos policiais.
“Seguia para as barcas e vi um grupo de policiais reunidos. Cheguei perto e vi o Hiago imobilizado. Ao perguntar o que aconteceu, um deles disse que ele estava em atitude suspeita, por isso, foi abordado”.
Policial responderá por homicídio doloso
Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior — Foto: Reprodução/TV Globo
O policial militar Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior, que atirou e matou Hiago foi preso e deve responder por homicídio doloso – quando há a intenção de matar – qualificado por motivo fútil, segundo apurou a TV Globo.
Segundo testemunhas, o policial militar, que estava à paisana, e o vendedor Hiago Macedo de Oliveira Bastos, de 22 anos, começaram uma discussão depois que o trabalhador ofereceu seus produtos.