Entrevista exclusiva: Leila Pereira abre o jogo sobre trajetória, machismo, Palmeiras e poder: ‘Quem tem a caneta sou eu’
É verdade que seu pai, que era médico, queria que você fosse dona de casa? Como foi ultrapassar essa primeira barreira dentro de casa?
Meu pai, já falecido, era médico. Assim como meus dois irmãos. E sim, meu pai queria que eu fosse dona de casa. E digo isso pela atitudes. Ele nunca virou para mim e disse que queria isso. Ele sempre se preocupou muito com a formação dos meus irmãos. Meu pai direcionou a carreira deles. Mas a minha, não. Nunca me disse que precisava ser médica nem fazer faculdade… Sempre trilhei meu caminho. Hoje penso que ele não achava importante a mulher se destacar, se aprimorar. Acho que pensava que não precisava se preocupar porque ele estaria sempre ao lado, me sustentando.
Você deixou Cabo Frio para estudar o ensino médio e fazer faculdade. Quem te apoiou nessas decisões?
Minha mãe fez faculdade de Letras, depois de casada e com filhos adultos. Minha mãe nunca trabalhou fora (de casa). Mas sempre quis que eu trabalhasse.
Você se formou em jornalismo…
Sempre quis trabalhar, ser independente. Nasci em Cambuci, fui criada em Cabo Frio e, com 17 anos, fui para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. Aos 18 anos, eu conheci meu marido, José Roberto Lamacchia. Influenciada por ele também cursei Direito. Nunca fui uma estudante brilhante, mas era esforçada. Cheguei a estagiar na antiga TV Manchete e, por incrível que pareça, eu era uma pessoa extremamente tímida. E aquilo me incomodava muito. E tudo que me incomoda, me faz crescer. Eu sempre quis e quero superar as minhas limitações. Quando olho para trás, falo meu “Deus do céu, como que eu poderia imaginar?” Sei que é uma construção. Fui trabalhando dia a dia. E meu marido é uma pessoa fundamental na minha vida. Jamais seria a pessoa que eu sou se não fosse o José Roberto, que sempre acreditou na minha capacidade. É importante ter alguém que te fale que você é capaz.
Você é de família vascaína, mas só em São Paulo, por meio do seu marido, que a paixão pelo futebol surgiu. Por quê?
Dizem que eu tenho de colaborar com o Vasco porque sou vascaína… Meus irmãos eram vascaínos por causa do meu pai, mas eu não era nada. Não sou vascaína. Nunca fui. Não era nada até que conheci o meu marido. Eu não nasci palmeirense. Me tornei palmeirense. Mas olha: tenho profundo respeito pelo torcedor do Vasco. Tenho por todos os torcedores. Tanto é que muitos, de clubes rivais, em qualquer lugar que eu vá, me abordam e me falam que gostariam de ter uma pessoa como eu no seu clube.
Pedem para você patrocinar o clube também?
Todos me pedem para colaborar com o seu clube. Eu gostaria que o exemplo de sucesso das nossas empresas, parceiras do Palmeiras, servissem de exemplo para que outras empresas também investissem no futebol.
Enquanto patrocinadora, a relação com a torcida era uma. Agora, como presidente, as cobranças surgem de uma forma diferente…
São duas situações… Cheguei no Palmeiras como patrocinadora, em janeiro de 2015. Nós oferecemos o patrocínio pela situação que o Palmeiras se encontrava naquela época. Óbvio que o Palmeiras não existe somente a partir da Crefisa. Em 2014, meu marido também passou uma situação muito difícil. Teve um linfoma e se recuperou. A gente já estava numa situação extremamente privilegiada e nos perguntamos por que não poderíamos ajudar o clube que gostamos tanto? Liguei no SAC, no call center… não tinha o contato do Palmeiras e acharam que era trote. Eu era uma torcedora. Em momento algum, pensei em retorno financeiro. Entrei única e exclusivamente porque eu e meu marido queríamos colaborar. O Palmeiras tem quase 20 milhões de torcedores. Mas a grande maioria eu tenho certeza absoluta que reconhece a importância de um parceiro. Mas, com a torcida organizada… Eu nunca discriminei o torcedor. Aquele que ama o Palmeiras está caminhando no mesmo lado. Como patrocinadora, eu sempre colaborei com as festas da torcida organizada e nunca pedi absolutamente nada em troca. Sempre foi um relacionamento muito respeitoso.