Serviços em alta, indústria estagnada: PIB inaugura mais uma fase de sua recuperação desigual

Para quem começou o ano com temores de recessão, o resultado desta quinta-feira (2) do Produto Interno Bruto trouxe um alento: segundo os dados divulgados pelo IBGE, a economia do país cresceu 1% no primeiro trimestre, graças ao impulso do setor de serviços.

A recuperação do segmento — que reúne os bares, restaurantes, eventos, salões de beleza, turismo e outras atividades — já era esperada. Mas o ritmo surpreende, já que o desemprego alto e a inflação em um patamar de 12% em 12 meses são fatores que reduzem o apetite de consumo da população.

O fenômeno visto no setor de serviços é o oposto do que acontece com a indústria, onde a tendência é de resfriamento severo da atividade.

A indústria teve um bom impulso no início da pandemia, quando as restrições de circulação fizeram subir o consumo de bens. Sem o bar de preferência aberto, o dinheiro economizado no fim do mês foi para um novo micro-ondas, uma nova geladeira ou televisão.

Agora, o fenômeno se inverteu. Além de uma nova mudança nos hábitos de consumo da população, há a alta dos juros no radar e problemas na cadeia de suprimentos que persistem desde os primeiros impactos da Covid-19.

g1 procurou especialistas para entender mais essa faceta da recuperação desigual pela qual o país passa, em especial o contraste entre dois dos setores mais importantes da economia.

Variação trimestral do PIB desde 2017 — Foto: Arte g1

Variação trimestral do PIB desde 2017

A crescente dos serviços

O primeiro passo para entender a recuperação do PIB neste primeiro trimestre é dar o devido peso aos setores. As atividades de serviços representam quase ⅔ de toda a economia brasileira.

São negócios que foram os mais impactados pelo isolamento social e que agora avançam mais rápido do que se previa. E só foi possível voltar ao pleno funcionamento após o avanço da vacinação contra a Covid.

Com a imunização em bons patamares, nem a chegada da variante ômicron conseguiu frear a retomada. E os dados mostram que ainda há espaço para mais.

Para Fernando Rocha, economista-chefe da JGP, o erro dos analistas foi considerar que os serviços voltariam para o patamar pré-pandemia e ali estacionariam. Em outras palavras, foi subestimado o desejo de “agito” pós-recolhimento.

“É uma cadeia de bem-estar e lazer que havia sido totalmente interrompida. Datas importantes ficaram para trás e existe esse movimento de ‘fazer agora’, porque há até uma incerteza de ‘até quando’ se poderá fazer”, diz o economista.

Segundo ele, o “pé no acelerador” de serviços é a soma de demanda represada por quase dois anos e um pouco de poupança que consumidores de classe média e alta fizeram nesse meio tempo.

Rocha lembra que os mais pobres contribuem muito pouco (ou quase nada), pois estão mais pressionados pela inflação e já consumiam pouco do setor, o que diminui o poder de freio dos preços — ao menos por ora. Enquanto isso, o grupo dos mais ricos vai turbinando o consumo de serviços até o limite de sua renda.

“Esse ambiente é bom para atividade e ruim para inflação. O fornecedor percebe a demanda, sobe o preço e as pessoas vão pagando. Esse furor pode passar em breve e as pessoas podem começar a reavaliar”, afirma Rocha.

 

A mudança de rota, porém, só deve tomar corpo no ano que vem, segundo o economista. A JGP projeta crescimento de 1,8% em 2022, com inflação forte até dezembro. No ano seguinte, a expectativa é de alta de 1,4%.

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