Indefinição, discurso e erros de todos os lados levam Paulo Sousa à corda bamba no Flamengo; veja motivos
Paulo Sousa está por um fio no Flamengo e chegou a essa condição por muitos erros cometidos. Mas não só o português tem culpa de uma temporada marcada por indefinições. Diretoria e jogadores também têm sua parcela para o panorama que desenha uma iminente troca de comando.
Indefinições e experiências trazem insatisfação de Landim e distanciam Paulo do grupo
A inconsistência do futebol rubro-negro é uma marca do futebol de Paulo Sousa. O Flamengo não conseguiu uma sequência de grandes atuações, nem mesmo na série de quatro vitórias, interrompida pelo Fortaleza. Aliás, no período o time enfileirou apresentações ruins.
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Paulo Sousa comanda treinamento desta sexta-feira no Ninho do Urubu — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Se as mudanças já traziam desconforto ao grupo desde o início do ano, até o presidente Rodolfo Landim, que sempre apostou na continuidade do português, perdeu a paciência com as experiências em excesso. As escalações nas finais do Carioca o desagradaram, mas a do último domingo, contra o Fortaleza, o tirou do sério.
Andreas foi improvisado na armação, e o Flamengo, com três volantes de ofício, perdeu o meio-campo. A péssima atuação com vaias ainda no primeiro tempo irritou muito o presidente rubro-negro.
Dentre as improvisações de Paulo durante o ano, a mais polêmica foi com Everton Ribeiro como ala-esquerdo no esquema com a também polêmica saída de três. Marinho, ainda menos acostumado a jogar por ali, também foi testado no setor em jogos contra o Fluminense (primeiro jogo da final do Carioca) e Athletico-PR. Não entregou em ambos.
As substituições de Paulo Sousa durante as partidas também trouxeram insatisfação interna. Em jogo contra o Ceará, por exemplo, sacou Ayrton Lucas e colocou Matheuzinho na lateral esquerda. Ao ver que a troca não dera resultado, colocou Marcos Paulo, jogador da posição, e devolveu Matheuzinho à direita. Rodinei foi outro a jogar de pé trocado recentemente e também não convenceu.
Entrevista e corte de Diego Alves são vistos como “grand finale”
A relação arrastada com o grupo, que em alguns momentos chegou a ter tréguas inclusive com manifestações de apoio de lideranças, caso de Gabigol, voltou à estaca zero após tudo que aconteceu no domingo. Diego Alves foi cortado minutos antes do jogo mesmo após fazer o aquecimento com o grupo, situação que pegou muito mal internamente. Apesar de estar longe do ápice técnico e físico, o goleiro é querido dentro do grupo e visto como um dos cabeças.
A entrevista em que tratou o time como “desastroso” e colocou na conta dos jogadores a derrota para o Fortaleza teve tratamento de “grand finale” segundo uma das pessoas próximas ao futebol rubro-negro.
Isso porque Paulo já havia exposto outros jogadores desde o início do trabalho, com críticas a Marinho e Pedro, por exemplo. As observações públicas a respeito do ponta-direita começaram já no primeiro jogo, em que marcou um gol e deixou o Estádio Raulino de Oliveira ovacionado nos 3 a 0 sobre o Boavista.
Terceirizar a culpa pela derrota não decepcionou e irritou apenas os jogadores, mas também a funcionários de diferentes áreas. Azedou ainda mais o relacionamento, e os treinos de segunda e terça-feira foram realizados em clima de final de festa.
Os erros da diretoria e enredo repetido se desenhando
Paulo Sousa não formou um Flamengo consistente, nem com a saída de três e menos ainda com a linha de quatro defensiva após lesão de Filipe Luís, mas a diretoria também errou com ele. O português não recebeu o volante box-to-box que tanto queria e nem Éverton Cebolinha, seu grande desejo. Indicou nomes, mas só teve influência direta nas contratações de Santos e Pablo.
Após derrotas marcantes, Marcos Braz e Bruno Spindel, responsáveis por contratar Paulo e dar a ele a incumbência de renovar o elenco e romper com o estilo de 2019, não apareceram para respaldá-lo em coletivas. Sobretudo no momento em que Jorge Jesus esteve no Brasil como sombra ao compatriota.
Braz e Spindel finalmente apareceram em entrevista – após vitória contra o Goiás – para apagar incêndio causado após Paulo Sousa expor Diego Alves em coletiva posterior a uma vitória por 3 a 0 sobre a Universidad Católica. Apesar de o vice de futebol ter declarado apoio ao treinador, a entrevista concedida em meio a sorrisos amarelos, não convenceu e nem tampouco diminuiu a temperatura no Ninho.
Com o caldo entornado após os acontecimentos de domingo, um roteiro repetido dessa diretoria volta a se desenhar. A exemplo do que aconteceu com Doménec Torrent e Rogério Ceni antes do início das oitavas de final das Libertadores de 2020 e 2021, Paulo Sousa chega para os jogos contra Bragantino e Internacional com a saída esboçada.
O sorteio da Copa do Brasil, que colocou o Atlético-MG como adversário nas oitavas de final, torna ainda mais escasso o tempo para o Flamengo definir a estratégia em relação à troca do comando técnico. Se a diretoria poderia ter mais tranquilidade até o início da mata-mata Libertadores com um possível rival menos poderoso, a presença do Galo exige mais celeridade nas ações.
E o time: não tem culpa?
Mesmo extremamente modificado e sem identidade definida até então, o Flamengo também acumula tropeços por queda de rendimento de seus principais jogadores. Diego Alves começou o ano com problemas físicos e de relacionamento, que o fez perder a titularidade. O substituto, Hugo Souza, cometeu falhas importantes em jogos de peso.
Na defesa, Léo Pereira, uma das apostas de Paulo Sousa, acumulou falhas. Marcou gol contra a favor do Botafogo e cometeu erros decisivos nas finais contra o Fluminense, por exemplo. Filipe Luís conseguiu grandes atuações quando se dividia nas funções de terceiro zagueiro e lateral-esquerdo, mas mostrou limitações físicas naturais a um atleta que completará 37 anos em agosto.
Aliás, a nova função de Filipe fez Everton Ribeiro também se deparar com uma novidade, mas a ala esquerda trouxe oscilações para o camisa 7, que viu a Copa do Mundo do Catar, antes uma realidade, afastar-se consideravelmente. Quando voltou para a sua função, fez bem e colocou-se ao lado de Arrascaeta e Gabigol como dos poucos que mantiveram o nível em 2022. O uruguaio, aliás, segue em evolução.
Willian Arão também oscilou bastante. Até fez ótimos jogos como zagueiro, mas não mostrou-se constante. Bruno Henrique é outro que vive temporada oito ou oitenta. Reserva de peso e conhecido por entregar resultados, Pedro foi um dos que teve mais baixos do que altos em 2022.
Com erros aos montes e culpados em todas as esferas do presidente ao ponta-esquerda, o claudicante Flamengo tenta se reequilibrar num momento em que a temporada encontra uma linha tão tênue quanto a que Paulo Sousa tem de percorrer nesses próximos dias. E eventuais vitórias estão longe de tornar o caminho menos tortuoso.