Ruas de fogo, susto e festa: torcida do Inter joga junto e carrega time às quartas da Sul-Americana
“Colorado eu sou! O Inter é alegria do meu coração. É minha vida, a minha paixão”, diz um trecho de um dos hits das arquibancadas do Beira-Rio. Sintetiza bem a histórica virada por 4 a 1 do Inter sobre o Colo-Colo na noite de terça-feira. A luta em campo decorreu muito da força da torcida. Das “ruas de fogo” ao show de luzes após a partida, os 40.598 presentes resolveram acreditar na remontada e injetaram o combustível para o grupo de Mano Menezes reverter a adversidade.
– As atitudes foram bonitas desde antes do jogo. Do percurso que fizemos, passando no meio do torcedor, o estádio, tudo isso influencia no jogo de forma positiva. Até no momento de dificuldade extrema mesmo que o torcedor tenha vaiado, o ambiente do jogo é favoravel para quem é o mandante, intimidou e nos deu força maior – disse Mano
O clima de decisão era nítido nas redondezas do Beira-Rio horas antes da partida. Ainda pela parte da tarde os colorados se aglomeravam por volta do localPelas 19h, um cordão foi formado na Avenida Padre Cacique. Munidos de bandeiras, cervejas, sinalizadores e voz, os colorados esperavam o ônibus da delegação.
Por volta das 19h15, o céu começou a ser pintado de vermelho. As “ruas de fogo” apresentavam o caminho que seria percorrido por Mano e seus comandados. Os líderes da Popular, principal organizada do clube, tentavam colocar todos na calçada para evitar um problema no momento do deslocamento. Escoltados pela polícia, o veículo passou pelo mar vermelho e sentiu o carinho.
– Nos motivou bastante. Desligou as luzes do ônibus e sentimos os torcedores batendo no ônibus. Foi especial. Esperamos que façam mais vezes. É uma caminhada passo a passo. Crescer para ter momentos assim e compartilhar com o nosso torcedor – disse Pedro Henrique.
Com o ônibus já na parte interna do complexo, a festa seguiu. Os colorados atravessaram o pátio, passaram pela estátua do Fernandão e rumaram aos portões sem parar de cantar. Algo que seguiu já nas dependências do Beira-Rio.
Houve também confusão fora. Torcedores tentaram invadir o portão 7, conforme informação confirmada pelo Inter, pelo qual entra a Popular. A polícia precisou isolar o local para conter os ânimos.
Daniel e Keiller subiram para aquecer e ganharam o carinho, enquanto os chilenos sentiram a pressão das vaias. No anúncio da escalação, a torcida evitou criticar o goleiro, Moisés e Edenilson, que convivem com contestações. Todos os titulares foram aplaudidos, mas abaixo do treinador. Já entre os reservas, houve vaias a Heitor e Wesley Moraes.
O jogo começou e a torcida manteve o ritmo, mas veio o baque aos 12 minutos com o pênalte cometido por Daniel. Após Gabriel Costa converter, o estádio sentiu o gol e diminuiu o cântico. Aqui uma nota negativa. Um torcedor tentou invadir o gramado, mas, antes de chegar próximo aos jogadores, foi retirado pelos seguranças.
Aparecia a irritação, tão comum e próxima à paixão. O camisa 1, quando tocava na bola, era vaiado. Assim foi até o Inter virar o placar.
– Teve a reação do torcedor, que compreendemos. Não podemos baixar a cabeça, tivemos força e convivemos com as vaias ao Daniel. Somos um grupo. Estamos que estar ao lado de quem por ventura pode ter cometido uma avaliação errada – disse Mano
A torcida se voltaria contra o time após uma festa tão bonita? Não. O Inter, energizado pelo carinho que recebeu e indignado com o resultado foi ao ataque, empatou com Alan Patrick e virou com Edenilson após um cruzamento de Moisés. Sim. A virada histórica também deu espaço a redenção dos dois criticados.
Apesar de ainda precisar marcar, pelo menos, mais um para ir aos pênaltis, o Beira-Rio já estava novamente inflamado. A torcida cantava cada vez mais forte e pulsava para empurrar em busca da vaga. Na saída para o intervalo, os colorados receberam aplausos.
O Inter voltou para o segundo tempo e Rodrigo Moledo, um dos xodós da torcida, veio junto para substituir Vitão. Um dos colorados em campo, Pedro Henrique, voltou abraçado do vestiário com Mano. Recebia as últimas instruções. O atacante fez o Beira-Rio rugir ainda mais ao finalizar para fora logo no início da etapa final após jogada de Moisés
O Colo-Colo, por sua vez, catimbava e tentava fazer o tempo passar. A torcida pressionava e repetia as vaias. As arquibancadas receberam um recado de Mano. Gabriel Costa cabeceou uma bola aos 12, mas Daniel brilhou. O lance acabou anulado por impedimento do rival, mas o técnico vibrou e apontou para o goleiro, como se pedisse aplausos pela defesa.
Dois minutos depois, o Beira-Rio explodiu. Edenilson cobrou escanteio para Alemão, que marcou com a coxa esquerda. O Inter estava cada vez mais perto da vaga. As arquibancadas ditavam o ritmo do time, que seguia em cima. E, aos 28, veio o êxtase.
Bustos acionou Pedro Henrique, que invadiu a área e marcou para colocar os gaúchos na próxima fase. Enquanto os colorados se abraçavam em campo emocionados, os torcedores pulavam incessantemente.
Mercado, Bustos e Carlos de Pena vibram com vaga do Inter — Foto: Ricardo Duarte/Divulgação, Internacional
Ao término da partida, Gabriel e Mercado viraram para a torcida e berraram. Mano e o auxiliar, Sidnei Lobo, se abraçavam pelo sucesso e agradeciam aos fãs – depois iriam ao encontro dos torcedores. Os colorados então correram em disparada para a frente da Popular. Liderados por Taison, cantavam as músicas, inclusive as provocações ao Grêmio, pulavam e posavam para fotos.
As luzes foram apagadas e os celulares iluminavam o Beira-Rio em uma linda festa. O presidente Alessandro Barcellos, com a camisa do Inter, lutava contra a emoção e agarrava todos que passavam pela frente, de jogadores a gandulas.
Não tinha jeito. A emoção da histórica noite mexeu com todos os colorados. Empurrados pela torcida, o Inter segue na luta para conquistar o bicampeonato da Sul-Americana. Agora espera o vencedor de Melgar x Deportivo Cali. Com a sinergia com o Beira-Rio, há de acreditar que o sonho possa ser realizado.