Artilheiro da Croácia peitou cartola preso por corrupção e decolou em clube alemão

Andrej Kramaric é titular e artilheiro da Croácia na Copa 2022, com dois gols. O auge atual esteve em risco, afinal, em 2011, a carreira quase foi interrompida. O jogador viveu maus bocados no início de sua trajetória e precisou peitar o mais influente dirigente croata para seguir seu sonho de jogador.

Agora, estabelecido e respeitado no Hoffenheim, clube emergente da Alemanha, Kramaric quer levar a Croácia ao topo do mundo.

Dínamo: 452 gols na base e recusa a Mamic

O talento de Kramaric era perceptível desde cedo. Natural da capital croata, Andrej integrou a partir dos seis anos de idade as categorias de base do Dínamo Zagreb e impressionava pelo faro de artilheiro. Segundo contas próprias, Kramaric anotou incríveis 452 gols em todas as camadas juvenis. O rendimento acima da média chamaria atenção do dirigente Mamic, que não era qualquer cartola.

Kramaric marca dois gols pela Croácia e faz 46.30 pts no Cartola Express da Copa do Mundo

Zdravko Mamic era o homem mais influente do futebol croata. Acumulava os cargos de executivo-chefe do Dínamo Zagreb e de vice-presidente da Federação Croata de Futebol. Tinha por método obter lucro em negociações de jogadores através dos contratos que fazia, nos quais “mordia” porcentagens de até 50% das transações. Em 2018, foi condenado a seis anos e meio de prisão na Croácia por corrupção, mas fugiu para a Bósnia, onde vive como fugitivo desde então.

Pois bem, Mamic procurou a família de Kramaric repetidas vezes para negociar termos de contrato. Falou de dinheiro e vantagens, mas o jogador e seus familiares recusaram a proposta. Vale dizer que os próprios Luka Modric Dejan Lovren, companheiros de Kramaric na seleção atual, quase se complicaram na Justiça por compactuarem com algumas exigências de Mamic.

A recusa de Kramaric era corajosa e incomum a um jovem no time profissional. O rompimento de relações em definitivo foi em 2011. A partir daí, o atacante foi boicotado por Mamic, perdeu espaço com treinadores e teve que deixar seu clube do coração. Primeiro, atuou por empréstimo no Lokomotiva Zagreb (à época, o time B do Dínamo). Depois, foi vendido ao Rijeka, da elite croata.

No cenário nacional, estava visado por Mamic e teria dificuldades em subir de nível. Até que o rendimento de 55 gols em 65 partidas pelo Rijeka o catapultou, em janeiro de 2015, a um grande centro: a Inglaterra. Mais precisamente no Leicester.

Fracasso na Premier League

 

Sair finalmente do rastro de Zdravko Mamic era um grande alívio a Kramaric. Teria agora a grande chance da vida na Premier League. A adaptação a um novo país foi difícil, e ele chegou no meio da temporada do Leicester, que brigava contra o rebaixamento na ocasião.

Kramaric teve 15 oportunidades na metade final de 2014/15, com apenas três gols marcados. O Leicester se manteve ne elite para a temporada 2015/16, a mais marcante da história do clube.

Técnico Claudio Ranieri com os jogadores Kramaric, Ulloa e Inler, nos tempos de Leicester — Foto: Site oficial do Leicester City

No ano do improvável título inglês do Leicester, Kramaric foi muito pouco utilizado. Jogou três jogos pela Copa da Liga Inglesa e chegou a compor inclusive a equipe sub-21 numa partida. Na Premier League, somou apenas 24 minutos em dois jogos como reserva e depois foi emprestado ao Hoffenheim, em janeiro de 2016. O croata não viu de perto a façanha dos ex-companheiros

– Tenho que ser honesto, aprendi muito no Leicester. Foi uma grande experiência para mim ver algo diferente. Foi meio que minha culpa eu não estar 100% em forma naquela época, mas aprendi muito – reconheceu, em entrevista ao canal de TV Sky Sports.

Hoffenheim: raízes fincadas e gols

Na Alemanha, enfim, Kramaric encontrou o melhor ambiente para desenvolver seu futebol. O Hoffenheim é um time localizado no subúrbio de mesmo nome, com pouco mais de três mil habitantes, dentro da cidade de Sinsheim. O clube fincou o pé na Bundesliga em 2008, com ajuda financeira do magnata Dietmar Hopp, do ramo de softwares, e desde então está na primeira divisão. Jogou a Liga dos Campeões 2018/2019.

Por lá, o atacante convenceu a todos logo na primeira temporada, com cinco gols e quatro assistências em 15 partidas.

Em 2016/17, Kramaric foi comprado em definitivo pelo Hoffenheim por 11 milhões de euros. Sob o comando do jovem treinador Julian Nagelsmann, reviveu seu faro de gol apurado dos tempos de juvenil do Dínamo Zagreb. Em pouco tempo, viu sua equipe subir o sarrafo ao disputar fases de grupos de Liga Europa e Liga dos Campeões.

Hoje, Kramaric joga sua oitava temporada pelo clube e é o maior artilheiro da história do Hoffenheimcom 106 gols em 234 jogos. Está com 31 anos e cheio de fome de levar o clube do modesto vilarejo alemão mais longe.

– Estou jogando bem, me sentindo bem e espero continuar assim, marcando gols, ganhando jogos e fazendo uma história maior neste clube. Acho melhor ser o primeiro na aldeia do que o segundo na cidade – afirmou o croata.

Croácia: é possível reeditar 2018?

Realizado no Hoffenheim, Kramaric busca o patamar mais elevado possível com a Croácia. A experiência adquirida na seleção nacional já dura mais de oito anos – estreou com a camisa quadriculada em 4 de setembro de 2014, aos 23 anos, logo após o Mundial do Brasil. De lá para cá, disputou 77 partidas com 22 gols na conta

O atacante é hoje titular da equipe. Nas três partidas disputadas na Copa do Catar, foi centroavante em uma e ponta direita em duas. Seus dois gols saíram diante do Canadá, na goleada por 4 a 1. Ao que tudo indica, seguirá no time diante do Japão, pelas oitavas de final

A melhor campanha da Croácia numa Copa do Mundo foi a última, em 2018, quando saiu com o vice-campeonato ao perder por 4 a 2 para a França. Na opinião de Kramaric, é possível imaginar os croatas novamente disputando o topo do mundo do futebol em 2022.

– Sabemos muito bem que é importante ter experiência no futebol. Nunca vamos nos esquecer dos momentos vividos na Rússia, pois elevam nossa autoestima. Mas a vida continua e temos que buscar algo novo, então tentaremos repetir ou melhorar o desempenho. Será difícil. Se alguns duvidarão da nossa capacidade de fazer uma boa campanha, todos ficarão de olho na nossa seleção por termos chegado à última final. Vamos dar nosso melhor. Temos muito potencial, excelentes jogadores e um bom equilíbrio entre experiência e juventude. Tomara que a gente consiga mais uma vez – disse, em entrevista ao site da Fifa.

O duelo Japão x Croácia, pelas oitavas de final,

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