Apesar de recorde, safra atual de milho em MS sofre com preço baixo no mercado
Se a atual segunda safra de milho fosse toda vendida ao preço de hoje os agricultores de Mato Grosso do Sul teriam um faturamento de R$ 11,6 bilhões. No ano passado, apesar de a safra resultar pelo menos 10% menor em relação ao atual ciclo, o preço do milho no mercado chegou a R$ 70,42 a saca de 60 quilos, em dezembro.
Isso significa que na comparação entre os dois ciclos do milho, no ano passado o faturamento do setor, por conta do preço melhor, chegou a R$ 14,9 bilhões, uma diferença de R$ 3,3 bilhões. Não é perda, mas é dinheiro que o agricultor deixa de faturar devido à desvalorização do produto.
Na segunda safra do milho de 2023 o grão produziu 14,2 milhões de toneladas. No ciclo de 2022, o grão fechou com uma produção de 12,7 milhões de toneladas, portanto houve 10,1% de crescimento.
Isso se deve ao fato de que de um ciclo para outro (segunda safra de 2022 para 2023), o preço da saca do grão no mercado caiu 30,28% no mercado, considerando preços médios praticados no período de 11 a 14 de dezembro, de acordo com a Granos Corretora. Segundo ela, até 4 de dezembro de 2023, o MS já havia comercializado 60,20% do milho 2º safra de 2023, o que representa 1,80 ponto percentual abaixo do índice apresentado em igual período de 2022.
Gráfico mostra números da safra recorde de milho em 2023. (Infográfico: Boletim Casa Rural)
As informações são do boletim do Siga-MS (Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio de Mato Grosso do Sul), publicado em 19 de dezembro deste ano.
Mercado é dinâmico e preço já foi pior
Segundo boletim da Aprosoja-MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), o preço médio do milho em Mato Grosso do Sul foi de R$ 42,45 por saca no mês de outubro de 2023. Esse valor não é ponderado pela comercialização e encontrava-se abaixo do preço de outubro de 2022 em cerca de 41%.
Mercado futuro promissor
Segundo referido boletim, no pregão de 18 de dezembro os preços futuros do milho, na Bolsa brasileira B3, apresentaram variação positiva para todos os contratos, entre os dias 11 e 18. O vencimento de janeiro de 24 valorizou 1,54%. No vencimento de mar/24 o preço da saca do cereal valorizou 1,37%, com valor de R$ 76,45. No vencimento mai/24 o preço da saca do cereal valorizou 1,46%, com valor de R$ 75,70. No vencimento jul/24 o preço da saca do cereal valorizou 1,07%, com valor de R$ 73,60. E o vencimento de set/24 valorizou 1,09%, sendo cotado a R$ 72,50/sc. O vencimento de nov/24 valorizou 0,82%, sendo cotado a R$ 73,90 a saca de 60 quilos.
Economista explica diferenças de preços entre os dois ciclos
A coluna Lado Rural entrevistou o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, que avalia os dois ciclos de produção do milho, face ao mercado nacional e internacional. Veja a seguir:
Campo Grande News – Qual é a razão para tamanha diferença de preços ao produtor entre os dois ciclos?
Staney Barbosa Melo – Bom. A grande razão é a mudança de conjuntura. Para entendermos precisamos recapitular como estava o quadro geral antes de 2023. Primeiramente, muito por conta da conjuntura internacional, o período entre 2020 e 2022 foi marcado por preços e custos dos grãos elevados, com os fertilizantes chegando a custar até 200% mais do que os produtores estão pagando este ano. Tínhamos, portanto, uma conjuntura altista para os preços dos grãos que se justificava pelos custos elevados ao produtor rural.
Este ano, principalmente a partir de março/abril, tivemos uma disruptura nesta conjuntura. No cenário internacional, por conta da inflação, as maiores economias do mundo passaram a adotar uma postura mais retraída, reduzindo a capacidade de compra e importação, afetando o comercio global de maneira geral.
Campo Grande News – A safra brasileira recorde de milho influenciou o mercado?
Staney Barbosa Melo – Claro. Tivemos alguns choques internos que afetaram os preços do milho, a exemplo da safrinha recorde, que colocou no mercado 102,1 milhões de toneladas de milho este ano. Ao todo, nas três safras, o volume somou quase 132 milhões de toneladas de milho, ou seja, quase 19 milhões de toneladas a mais do que no ano passado, que também foi recorde. Isso fez com que os preços do milho caíssem para patamares abaixo de R$ 30/saca em muitas praças pelo país.
Campo Grande News – E qual é a influência de variáveis como logística, armazenamento e transporte de grãos?
Staney Barbosa Melo – Estes problemas ajudaram a diminuir os preços da soja e do milho internamente, muito por conta da incapacidade de se escoar rapidamente a produção, em meio a necessidade se abrir espaços nos armazéns para a safra que saia dos campos em meados de abril. Com a normalização da situação logística e o impulso das importações chinesas, sobretudo no segundo semestre deste ano, começamos a ver uma reação nos preços do milho que inclusive ia contra as expectativas do mercado.
“Essa reação que estamos vendo agora nos preços do milho é fruto dessa conjunção entre uma maior demanda vinda da China, problemas de clima e atrasos no plantio da safra 2023/24” – Staney Barbosa Melo
Essa maior demanda chinesa ainda é um elemento importante de suporte para os preços do milho, mas a este elemento se somou um fato novo, o El Niño. Essa reação que estamos vendo agora nos preços do milho é fruto dessa conjunção entre uma maior demanda vinda da China, problemas de clima e atrasos no plantio da safra 2023/24. Como resultado, está se desenhando um quadro mais altista para os preços do milho no ano que vem, pois com os atrasos no plantio da soja, a janela do milho ficou prejudicada, elevando o risco climático na janela da safrinha no ano que vem. O mercado está apostando em uma oferta menor de milho em 2024, e isto já está se refletindo nos preços, tanto na B3 como em Chicago.
Campo Grande News – Como você resumiria as diferenças entre 2022 e 2023?
Staney Barbosa Melo – Bom, os fatores que justificaram os preços do milho em patamares acima de R$ 70,00/saca, em 2022, não são os mesmo de agora. Diferentemente do ano passado, temos desenhado adiante uma conjuntura ainda baixista para os preços dos alimentos, mas que poderá mudar, sobretudo pela estabilidade, em 3 reuniões seguidas, das altas nas taxas de juros dos títulos americanas pelo FED. Com a inflação controlada, é natural que o ritmo de negócios no mercado internacional volte a se acelerar, alterando essa conjuntura e aumentando também a demanda por alimentos e grãos do Brasil.