Diretor comissionado de Ponta Porã recebia salário de até R$ 28 mil enquanto estudava medicina no Pará

Servidor com cargo em comissão de Diretor de Projetos Esportivos e Culturais em Ponta Porã – cidade a 315 km de Campo Grande, administrada por Eduardo Campos (PSDB) -, Victor Manoel Fernandes Almada, recebia salário de até R$ 28,8 mil para exercer o cargo ao mesmo tempo em que participava de estudos complementares para o Revalida – exame para validar diplomas de médicos obtidos no exterior – na UEPA (Universidade do Estado do Pará), distante 3.241 km da cidade no interior de Mato Grosso do Sul.

Conforme informações oficiais do governo do Pará, Victor fez parte da turma de 56 alunos que recebeu o diploma de medicina brasileiro após cursar “1.760 horas [equivalente a 75 dias], na área de Saúde da Família e Comunidade, durante o período de 12 meses [que começou em 2023 e terminou no começo de 2024]”, consta em matéria divulgada pelo site oficial do Governo do Pará – LEIA AQUI.

De acordo com o governo do Pará, “os médicos passaram um ano nos municípios de Breves, Portel, Muaná, Oeiras do Pará, Ponta de Pedras, Salvaterra, São Sebastião da Boa Vista, Afuá, Bagre, Santa Cruz do Arari, Curralinho, Soure, Cachoeira do Arari, Anajás, Gurupá e Chaves, no Arquipélago do Marajó e, no início de fevereiro [de 2024], fizeram novas provas teóricas e de habilidades e, com a nova nota, foram aprovados no processo desenvolvido pela universidade”.

No entanto, no mesmo período, Victor recebia salário que variou entre R$ 20.974,71 e R$ 28.875,32 para exercer cargo em comissão de comissão com lotação no gabinete do prefeito. O servidor é concursado para professor e foi nomeado para o cargo de direção desde 1º de agosto de 2022, com assinatura do então prefeito Hélio Peluffo (PSDB), que assumiu a secretaria de obras do Estado e deixou se vice, Eduardo Campos, na administração de Ponta Porã.

 

Conforme os holerites disponíveis no Portal Transparência do município, em todo o ano de 2023, incluindo 13º, Victor recebeu total de R$ 307.724,82. No mesmo período em que cursou aulas para obter o diploma brasileiro de medicina.

Foto oficial da turma com o governador do Pará, com detalhe para o diretor de esportes de Ponta Porã (Divulgação, Governo do Pará)

A reportagem entrou em contato com Victor para esclarecimentos sobre a denúncia na manhã do dia 19/09, mas as mensagens não foram respondidas até esta publicação. Porém, o espaço segue aberto para manifestação.

Todas as informações contidas da reportagem são baseadas em documentos oficiais e públicos.

Além disso, Victor é o presidente municipal do PP de Ponta Porã, que indicou o médico Patrick Derzi para ser vice na chapa de Eduardo Campos para as eleições deste ano.

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Prefeito desconhece irregularidades e promete investigação

Questionado pela reportagem, o prefeito Eduardo Campos afirmou não ter conhecimento do fato de um servidor com cargo de direção nomeado por ele ter cursado aulas do outro lado do país enquanto atuava no município. Mas, prometeu investigar o caso, confira a nota na íntegra:

Me causou espanto essa notícia, porque não compactuamos com qualquer irregularidade. O servidor é responsável pela realização dos eventos culturais e esportivos no município. Todos os eventos foram devidamente realizados durante o ano 2023, sob o comando do mesmo. Desconheço as circunstâncias e a existência dos fatos narrados. Aguardarei o envio desses documentos para determinar a adoção das providências necessárias, com a instauração de sindicância para a devida apuração e, se confirmada, responsabilização dos envolvidos“, disse Campos.

Enquanto recebia salários acima de R$ 20 mil em Ponta Porã, diretor cursou ensinos complementares do Revalida no Pará, a 3,2 mil km de distância (Reprodução)

Excluído do CRM sob acusação de fraude

Em 2023, antes de passar pelo revalida, Victor apareceu em relação publicada pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) de falsos profissionais que atuavam em todo o país.

Conforme a entidade, o conselho apresentou denúncia à PF (Polícia Federal) no início de 2022, que deu início à Operação Catarse.

Os investigados teriam falsificado diploma de medicina. Então, cancelou o CRM dos envolvidos. Confira AQUI a lista publicada pela entidade.

A reportagem também questionou Victor sobre o caso, mas não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para posicionamento, que pode ser incluído após a publicação.

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