Faltam pediatras? Médicos se formam em MS, mas deixam Estado por baixa remuneração

Uma especialidade bastante procurada diariamente pelos moradores, a pediatria na saúde pública se contrasta com a quantidade de clínicos-gerais nas unidades de saúde nos municípios de Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, por exemplo, os médicos pediatras são 13 para 60 clínicos que atendem pela manhã. Mas faltam pediatras em MS?

Conforme o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina), não. São mais de 600 especialistas com registro em MS e, por ano, mais de 30 médicos pediatras se formam em Mato Grosso do Sul. No entanto, não permanecem no Estado por má remuneração ou falta de condições de trabalho. Segundo nota do presidente do Conselho, José Jailson, há uma quantidade expressiva de especialistas registrados

“Muitos acabam não ficando no Estado por falta de condições atrativas de trabalho. Mato Grosso do Sul tem hoje registrados no CRM-MS 624 pediatras ativos, destes, 402 atuantes na Capital. Por ano, os estabelecimentos de saúde credenciados pelo MEC, na Capital, formam 32 especialistas na área de pediatria e 5 em neonatologia”, disse.

A escassez de pediatras na saúde pública já foi pauta da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), que mostrou, em levantamento, que no país os pediatras eram a segunda maior especialização do país, mas que apesar da quantidade significativa, a rede pública e a rede suplementar de saúde enfrentam dificuldades em contratar os profissionais.

A reportagem tentou contato com a SBP em Mato Grosso do Sul, mas não teve retorno.

‘Afastamento da pediatria’

O diretor de Defesa Profissional da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), dr. Fábio Guerra, conversou com o Jornal Midiamax e relatou que acompanha a situação dos profissionais no serviço público e o que se tem notado nos últimos anos, é um afastamento dos pediatras principalmente na atenção primária.

“Ao nosso entendimento, não existem empecilhos. Existem muitos profissionais que poderiam estar atuando na saúde primária. Os profissionais poderiam estar acompanhando a questão da orientação das vacinas, da alimentação, do cognitivo das crianças. Mas há esse afastamento. É com preocupação que observamos tudo isso”, comenta Guerra.

O médico diz que a escassez de pediatras na saúde pública está relacionada a falta de oportunidades promovidas pelos municípios e, por isso, a SBP tem desenvolvido medidas para estimular políticas para maior inserção dos pediatras na saúde pública. “A SBP entende que tem uma deficiência pediátrica na saúde pública. Não vemos  publico, não vemos novas contratações, os profissionais ficam desmotivados a trabalhar, até falta de condições estruturais”, disse.

Pediatras na Saúde em Campo Grande

Nas escalas diárias nas unidades de saúde, os pediatras são encontrados em apenas unidades de saúde específicas. Ou seja, quem precisar da especialidade, precisa se organizar para buscar atendimento.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) disse em nota que Campo Grande conta hoje com 84 médicos pediatras na rede pública de saúde, sendo 10 convocados por meio do cadastro de contratação de médicos temporários e 74 concursados, o que, segundo a secretaria, corresponde a quase um quarto de todos os pediatras com registro ativo na cidade.

“Estes profissionais estão distribuídos nas unidades de urgência, atenção primária, núcleos de apoio à saúde da  e atenção especializada. Atualmente, a Capital oferece atendimento pediátrico em sete das 10 unidades de urgência, mesmo este não sendo preconizado pelo Ministério da Saúde, uma vez que estes locais são unidades para estabilização do paciente, sendo ele encaminhado posteriormente ao especialista. Ainda assim o serviço é oferecido pela Prefeitura, com o objetivo de dar maior celeridade no atendimento à população”, disse.

Em 2019, a Prefeitura realizou concurso da área da saúde no município, e nele estava previsto também a contratação de médicos pediatras para suprir vacâncias. Na oportunidade, todos os 64 profissionais aprovados foram convocados para assumirem seus postos, contudo, a Sesau explicou que nem todos se apresentaram, ilustrando a dificuldade na contratação deste especialista.

“Dentro das unidades de saúde da família, uma busca por parte de pais e responsáveis pelo atendimento à criança feito de forma exclusiva por um médico pediatra, postura esta que dificulta o acompanhamento e tratamento do paciente, uma vez que todas as 72 unidades contam com médicos da família. Estes profissionais possuem competência para atender o paciente em todos os ciclos de vida, independente da idade, dispensando, desta forma, o atendimento especializado, a não ser nos casos em que o profissional observa esta necessidade”.

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