Reinier desabafa sobre período no Dortmund: “Só queria sair de lá”

Em cinco jogos no primeiro mês pelo Girona, Reinier fez um gol. É a mesma quantidade que marcou em dois anos no Borussia Dortmund. Emprestado pelo Real Madrid ao time catalão, o meia-atacante não esconde o sorriso. A satisfação. O alívio por ter deixado o time alemão.

“Eu só queria sair de lá. Quando deu um ano, percebi que não ia mudar e não era por mim, porque eu estava fazendo de tudo”, diz Reinier, ao Gringolândia

Reinier desabafa sobre período no Dortmund: “Eu só queria sair”

Em entrevista exclusiva ao podcast Gringolândia (ouça a íntegra abaixo), o brasileiro ex-Flamengo falou sobre seus dias difíceis em Dortmund. Ao mesmo tempo em que quer superar o passado na Alemanha, ele quer desabafar sobre o que viveu.

Reinier afirma que se sentiu desrespeitado. Iludido. Era elogiado pelo desempenho nos treinos, mas não teve chances no campo com os dois técnicos com quem trabalhou no clube: Edin Terzic e Marco Rose.

No total, foram 39 jogos, um gol e uma assistência em dois anos no Borussia Dortmund. No período, o clube fez 97 partidas oficiais. Reinier foi titular apenas três vezes.

– Eu fazia de tudo. Respeitava todas as pessoas que trabalhavam no clube. Estou com a consciência tranquila. É passado. Não tem muito o falar sobre. Torço muito para o Borussia e para meus amigos que estão lá tenham uma temporada maravilhosa, e segue a vida. Estou no Girona, estou feliz, estou bem.

“Passaram dois anos que, para mim, foram perdidos e não vão voltar. Agora tenho que recomeçar dando a vida aqui no Girona”, desabafa o brasileiro

Reinier também comentou sobre seus planos no Girona, o desejo de jogar pelo Real Madrid, a relação com Haaland e a torcida para que o amigo João Gomes também jogue na Europa.

Confira a entrevista completa:

Como você se sente nesse começo no Girona?
– Vida aqui muito tranquila, vida calma, agora com minha família, voltando a ter confiança, treinando bem. Estou muito feliz com esse começo. É um bom começo, ganhando confiança, ganhando minutos. Estou bastante feliz com essa escolha minha e da minha família

Você sente que vai ter mais espaço no Girona do que teve no Dortmund?
– Sim, estou sentindo isso. Estou bastante animado com o projeto. O que eu quero é jogar, ser feliz fazendo o que eu amo, que é jogar futebol. O projeto me encanta. Projeto bom, para mim e para minha família. Foram cinco jogos, pouco a pouco vou ganhando confiança, ganhando meu espaço também nos treinamentos. Estou muito feliz. Estou dando meu melhor no dia a dia e quero continuar assim, jogando bem, mostrando ao treinador que posso estar no time, jogando todos os jogos e ajudando meus companheiros.

Como você avalia sua passagem no Borussia Dortmund? O que deu certo e o que deu errado?
– Pela experiência de vida, sou outra pessoa. Dois anos na Alemanha… sou outra pessoa, outra cabeça. Experiência com grandes jogadores, que hoje são meus amigos. Eles me ajudaram bastante desde que cheguei lá. Não falava inglês, não falava alemão, que é bastante difícil. Eles me ajudaram, Haaland, Emre Can, Jude (Bellingham), e isso foi uma experiência muito boa. A má é que eu não pude desenvolver meu futebol. Treinava bem, as pessoas, não vou citar nomes, mas as pessoas no treino falavam: ‘Você está treinando muito bem, parabéns, continue assim’, e não botavam para jogar. Eu não entendia. Treinava bem e não me botavam para jogar? É uma escolha deles, respeitei todo mundo, a instituição, os jogadores que estavam jogando, mas é uma pena. A cidade é muito fria, mas uma cidade boa. Torcida incrível, aquela Muralha (Amarela, torcida do Dortmund).

“Tudo era ótimo, só que dei azar de não ter jogado. É a vida”Borussia Dortmund:
39 jogos (3 como titular)
1 gol
1 assistência
745 minutos (média de 19 por jogo

Alguém te explicou alguma coisa? Você procurou alguém e falou sobre sua insatisfação?
– Cheguei a falar com o treinador, discutimos no inglês coisas de treinamento, de jogo que eu precisava melhorar, e ninguém explicava nada. Eu fazia minha parte, treinava, ia para casa e estava lá todo dia. Sempre cheguei no horário certo. Fazia de tudo. Respeitava todas as pessoas que trabalhavam no clube. Estou com a consciência tranquila. É passado. Não tem muito o falar sobre. Torço muito para o Borussia e para meus amigos que estão lá tenham uma temporada maravilhosa, e segue a vida. Estou no Girona, estou feliz, estou bem.

“Passaram dois anos que, para mim, foram perdidos e não vão voltar. Agora tenho que recomeçar dando a vida aqui no Girona”.

E lá no Borussia Dortmund, como foi sua convivência com o Haaland? O que ele tem de diferente?
– Tenho certeza que ele vai ser artilheiro de tudo nesta temporada. Dentro de campo, não tem o que falar. Ele é obcecado pelo gol, obcecado pela vitória. Ele quer a vitória e nada tira da cabeça dele isso. Ele fica puto na hora que o time perde, e isso é normal, tem que ficar. Ele quer sempre o melhor da equipe. Se tiver uma bola para ele fazer o gol, ou para tocar para alguém fazer o gol, ele vai tocar, ele vai fazer o gol. Ele me ensinou muito. Ele tem essa jogada que ele sai lá de trás. Ele faz todo o jogo. Ele sai lá de trás no contra-ataque. É incrível. Tenho certeza que ele vai triunfar nesta temporada e nas outras também. Também tem uma coisa que me surpreendeu bastante é o caráter, a pessoa dele. Ele é muito humilde.

O Real Madrid tem um histórico de jogadores recentes, como Odegaard, o Kubo, que passaram por empréstimos seguidos e não tiveram espaço no Real. Como não seguir o exemplo desses jogadores?
– Cada um tem sua caminhada no futebol. O Odegaard passou por vários times e agora está em uma grande equipe também. Eu quero seguir a minha caminhada, se for aqui, se for em outro time, o importante é estar feliz, estar se sentindo bem, estar dando o seu melhor.

Reinier, aconteceu esse episódio recente agora de racismo com o Vinicius. Você falou com ele? Como vocês, jogadores brasileiros na Europa, recebem isso?
– É lamentável esse tipo de coisa acontecer no mundo de hoje. Eu estava indo para o treino e quando olhei o Twitter esse cara aí… essa pessoa aí falando esse tipo de coisa. Aí já mandei mensagem pro Vini, falando que ele podia contar sempre comigo. A gente sempre se fala, a gente é muito amigo. Também me manifestei no Twtitter. É lamentável, no mundo de hoje acontecer isso. Esse cara tem que estar na cadeia. Mas o Vini é muito forte. O estafe que está com ele, os amigos, a família, tenho certeza que cuidam disso tudo. Ele responde dentro de campo. O Real Madrid ganhou. O que os torcedores fizeram também… isso não existe. Os brasileiros respondem tudo dentro de campo. Se fez gol, tem que comemorar como quiser. Agora é esquecer isso, a justiça tem que ser feita e vamos para cima.

Sofreu algum tipo de preconceito na Europa?
– Não, não. Nunca presenciei. Aqui na Espanha estou há pouco tempo, e na Alemanha nunca presenciei também. Sempre respeitaram bastante.

Ainda consegue acompanhar o Flamengo? Alguém do elenco é seu amigo?
– Acompanho bastante os jogos da tarde, né. Do Brasileiro. Jogo da Libertadores é mais difícil, fico sabendo na manhã do dia seguinte. É muito tarde, 2h45 daqui. Mas sempre falo, falo com o Rodinei. Nossa, ele é muita resenha, sempre falo com ele. Está voando, que continue assim. Diego Alves, Pedro, o Lázaro que veio para cá também, para o Almería. Com Joãozinho também, João Gomes. Falo com todo mundo, acompanho. Uma pena o horário em dia de Libertadores ser tão diferente. Mas sempre tento acompanhar o Flamengo.

João Gomes é alvo de times da Europa atualmente. Acha que ele está preparado?
– Eu conheço o João desde os 11 anos. É uma grande pessoa, um grande jogador. Com certeza, se continuar assim desse jeito, trabalhando como trabalha, jogando com muita qualidade, ajudando os companheiros, tenho certeza que vai vir para Europa brilhar em qualquer time que contratar. Estou muito feliz com a evolução dele, com tudo que vem vivendo. Meu pai era muito amigo do avô dele. Nossa família tem uma amizade muito grande, sou muito fã dele.

Voltando ao período no Dortmund, você quer falar mais? Como você ficava com as críticas por não ter jogado lá?
– Só foi massacre. Era só porrada… Foi um período muito difícil. Mas todo mundo sabe, todo jogador sabe que essas pessoas que falam “Ah, Reinier não está jogando nada” são haters, que não sabem o que a gente passa. Não sabem o que é essa vida, acham que é só coisa boa, que é só luxo. Claro que não, a gente passa por muita coisa. Claro, cada um tem seu estilo de vida, mas a gente passa por muita coisa, e não é só coisa boa. Nesses dois anos, na minha profissão, eu não tive coisa boa. Passei por muita coisa difícil com 18, 19 anos. Sentir isso, minha família me ver triste. Eu saía dos jogos muito abalado, não conseguia dormir. Sempre joguei no Flamengo e, de repente, não jogar e sentir que você pode estar ajudando seu time… você sente que a coisa não está boa para você.

“Eu só qeria sair de lá. Quando deu um ano eu percebi que não ia mudar e não era por mim, porque eu estava fazendo de tudo. Treinava em casa, tinha fisioterapeuta, nutricionista. Já não tinha mais o que fazer. Só queria sair e ser feliz de novo”.

– Tinha tudo, mas não estava jogando. Então só queria ter minha família por perto, era a única coisa que me fazia me feliz. E era isso, jogar que é bom nada. E as pessoas falando que não estava jogando porque sou ruim, porque sou tal. Sei do meu valor. Jogadores sabem como posso ajudar também. É uma pena… os brasileiros parecem que querem ver o jogador só se ferrar, se dar mal. Isso aí para mim não cabe. Isso para mim é lamentável. Em vez de jogar para cima, só querem detonar. Não sabem o que a gente passa. Mas a vida é assim, quando está no alto, muita palminha, quando está no baixo é só porrada. Passei dois anos no baixo, e agora de peito aberto trabalhando todo dia. Com minha família do lado. Vamos para cima com muita humildade. E baila Vini!

Passa um filme na sua cabeça na hora do primeiro gol pelo Girona?
– Pô… (risos) No primeiro gol eu estava felizão. Eu precisava desse gol, já achava que eu não sabia fazer as coisas que os outros faziam. Esse gol, eu sentia que eu merecia. Esse gol foi para minha mãe, para minha família que estava comigo lado a lado. Só quem está próximo, meus pais, sabe o que eu passei e o tanto que eu mereci esse gol. Foi na hora certa, ganhamos esse jogo. Foi muito bom. Pretendo fazer mais gols, ajudar minha equipe dando assistência, dando carrinho.

Está precisando dar resposta?
– Eu não tenho que provar nada a ninguém. Tenho que dar meu melhor dentro de campo. Mas sinto que eu posso fazer muito mais. Estou sentindo que esse ano vai ser bastante bom para mim, para minha família. E que vou voltar a ser feliz novamente. Vamos lutar, sofrer aqui, o que é normal, uma grande liga. A Liga Espanhola tem grandes times, vamos pegar uma sequência dura agora depois da parada (data Fifa). E é isso, trabalhar, sofrer, frio, calor, estou aqui para passar por isso. Trabalhar e desfrutar dentro de campo.

 

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