Aliados de Putin expressam preocupação com ‘excessos’ de mobilização
Os dois parlamentares mais importantes da Rússia abordaram neste domingo (25) uma série de queixas sobre a campanha de mobilização da Rússia, ordenando que autoridades regionais controlassem a situação e resolvam rapidamente os “excessos” que alimentaram a ira do público.
A decisão do presidente Vladimir Putin de ordenar a primeira mobilização militar da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial desencadeou protestos em todo o país e viu bandos de homens em idade militar fugirem, causando atrasos nas fronteiras e a venda de voos.
Vários relatórios também documentaram como pessoas sem serviço militar receberam documentos preliminares – ao contrário da garantia do ministro da Defesa Sergei Shoigu de que apenas aqueles com habilidades militares especiais ou experiência de combate seriam convocados – levando até figuras pró-Kremlin ultraleais a publicamente expressar preocupação.
Os dois principais parlamentares da Rússia, ambos aliados próximos de Putin, abordaram explicitamente a indignação pública pela forma como a campanha de mobilização estava se desenrolando.
Valentina Matviyenko, presidente da câmara alta da Rússia, o Conselho da Federação, disse estar ciente de relatos de homens que deveriam ser inelegíveis para a convocação do alistamento.
“Tais excessos são absolutamente inaceitáveis. E considero absolutamente certo que estejam provocando uma forte reação na sociedade”, disse ela em um post no aplicativo de mensagens Telegram.
Em uma mensagem direta aos governadores regionais da Rússia – que ela disse ter “total responsabilidade” pela implementação da convocação – ela escreveu: “Garantir que a implementação da mobilização parcial seja realizada em total e absoluta conformidade com os critérios descritos. erro.”
Vyacheslav Volodin, presidente da Duma Estatal, câmara baixa da Rússia, também expressou preocupação em um post separado. “As reclamações estão sendo recebidas”, disse ele. “Se um erro for cometido, é necessário corrigi-lo… As autoridades em todos os níveis devem entender suas responsabilidades.”
Autoridades dizem que mais 300 mil russos serão convocados para servir na campanha de mobilização. O Kremlin negou duas vezes que realmente planeja recrutar mais de um milhão, após duas reportagens separadas em meios de comunicação russos independentes.
Grupos de direitos humanos dizem que mais de 2 mil foram detidos em comícios contra a mobilização em dezenas de cidades até agora nesta semana, com mais protestos já registrados no domingo no Extremo Oriente da Rússia e na Sibéria.
Prisões após protestos
Centenas de pessoas foram presas pelas autoridades na Rússia nos protestos contra a nova “mobilização parcial” de reservistas para a guerra na Ucrânia, segundo um grupo independente de direitos humanos.
A ong OVD-Info disse que 724 pessoas foram detidas em 32 cidades diferentes apenas neste sábado (24). Cerca de mil pessoas já haviam sido presas no início da semana.
Manifestações tomaram o país desde que o presidente Vladimir Putin anunciou planos de convocação de 300 mil homens da reserva. Manifestações “não autorizadas” são proibidas pela lei russa, mas isso não impediu os protestos, que tomaram larga escala em áreas urbanas.
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Em Moscou, a agência de notícias AFP relatou ter testemunhado uma manifestante sendo presa por policiais e gritando “não somos bucha de canhão” (termo usado para tropas que são tratadas como sacrificáveis em um conflito).
E em São Petersburgo, uma das principais cidades do país, um homem disse a repórteres: “não quero ir à guerra por Putin”.
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Punições severas
Algumas das pessoas presas no sábado relataram terem recebido documentos de convocação e ordenados a se apresentarem em centros de recrutamento enquanto estavam sob a guarda de forças de segurança. O Kremlin defendeu a prática no início desta semana, dizendo que ela “não é contra a lei”.
Moscou também aprovou novas punições severas para os acusados de abandono do dever após a convocação, impondo punições de até 10 anos de prisão para qualquer soldado pego se rendendo, tentando desertar ou se recusando a lutar.
O presidente também assinou ordens que concedem cidadania russa a qualquer cidadão estrangeiro que se inscreva para servir um ano nas forças armadas do país.
O decreto mostra o quão grave se tornou a escassez de tropas em Moscou, dizem observadores, e ignora a exigência usual de cinco anos de residência no país para concessão de cidadania.
Em outras cidades, jovens russos continuam deixando o país para evitar a convocação.
Na fronteira com a Geórgia, as filas de carros russos se estendem por mais de 30 quilômetros e o Ministério do Interior pediu às pessoas que não viajem.
Autoridades russas locais admitiram que houve um fluxo significativo de carros tentando atravessar – com quase 2.500 veículos esperando em um posto de controle.
A admissão é uma mudança de tom da Rússia, que na quinta tinha descrito relatos de russos fugindo do recrutamento como “falsos”.
Enquanto isso, a Finlândia teve um aumento acentuado no número de russos que tentam entrar no país. Matti Pitkaniitty, porta-voz da guarda de fronteira do país, disse que o número de russos chegando mais que dobrou desde a semana passada. Na sexta-feira, o governo anunciou planos para impedir a entrada de turistas russos.
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“O objetivo é reduzir significativamente o número de pessoas que vêm da Rússia para a Finlândia”, disse o presidente Sauli Niinistö à emissora estatal.
Vários outros países vizinhos já descartaram oferecer asilo a russos que desejam evitar o alistamento.
“Muitos russos que agora fogem da Rússia por causa da mobilização estavam de acordo com a morte de ucranianos”, disse o ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkēvičs. “Eles não protestaram antes. Não é certo considerá-los como objetores de consciência agora.”
Na sexta-feira, o Kremlin revelou uma série de profissões que garantem isenção do recrutamento.
Trabalhadores de TI, banqueiros e jornalistas que trabalham para a mídia estatal escaparão da “mobilização parcial” anunciada por Putin.
No entanto, houve questionamento da veracidade das alegações do Kremlin, com relatos de convocação de homens que não atendem aos critérios de recrutamento.
Margarita Simonyan, editora do jornal estatal RT, postou no Twitter uma lista de cidadãos idosos e deficientes que foram obrigados a se apresentar ao serviço.