‘De picolezeiro a governador’: Há 1 ano, júri por execução de Matheus se consagrou como o da década em Campo Grande
Dia final do julgamento que condenou Jamil Name Filho (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)
Fila para entrar no plenário, três dias de julgamento que movimentou Campo Grande, debates em rodas de conversas até de quem não acompanhou com afinco o crime que chocou a cidade – a execução de um jovem estudante de direito a tiros de fuzil. Matheus Coutinho foi assassinado por engano no lugar do pai, em abril de 2019.
Esta sexta-feira (19) de julho completa 1 ano da condenação dos acusados pela execução do estudante de direito. Foram quatro anos de angústia e espera pela família de Matheus, que aguardava pela condenação dos acusados do assassinato.
Mas, um dos envolvidos era da alta classe da sociedade campo-grandense, de família tradicional e poderosa: Jamil Name Filho. Conhecido como ‘Guri’ ou ainda ‘Jamilzinho’, ele era apontado como um dos chefões de uma organização criminosa de execuções em Mato Grosso do Sul. A organização ainda era composta por agentes de segurança, como guardas municipais e policiais civis.
Dessa forma, foram mais de 30 horas de julgamento divididos em três dias: 17, 18 e 19. O veredito saiu depois das 22 horas do dia 19 de julho, condenando Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Olmedo.
Foram horas de leitura dos autos sobre como a organização agia. A violência física e psicológica era uma das marcas que ‘Jamilzinho’ usava a seu proveito contra as suas vítimas. “Comportamento agressivo”, assim era descrito o ator principal do grupo.
O trio acabou condenado pela morte do estudante. Assim, Jamil Name Filho foi condenado a um total de 23 anos, com pena de 20 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima, três anos e seis meses de reclusão e pagamento de 60 dias-multa por posse ou porte ilegal de arma de fogo. Ele foi absolvido da acusação de receptação.
Marcelo Rios foi condenado a um total de 23 anos e pagamento de 120 dias-multa, foi condenado à pena de 18 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima; um ano e seis meses de reclusão e pagamento de 60 dias-multa por receptação do veículo roubado utilizado no crime; três anos e seis meses mais pagamento de 60 dias-multa por posse ou porte ilegal de arma de fogo.
Já Vladenilson Olmedo foi condenado a um total de 21 anos, foi condenado a 18 anos de reclusão por homicídio qualificado – motivo torpe e dificuldade de defesa da vítima; três anos e 6 meses de reclusão por posse ou porte ilegal de arma de fogo mais 60 dias-multa.
Por que a execução de Matheus se tornou o júri da década?
A execução do estudante de Direito, que morreu por engano, tinha como pano de fundo uma briga entre Jamil Name Filho e o pai do jovem – Paulo Xavier, conhecido como PX, capitão reformado da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul).
Uma dívida após uma briga em negociações de propriedades rurais foi o estopim para que a organização de Jamil Name Filho planejasse e executasse o crime. Mas, o assassinato deu errado e Matheus acabou morto no lugar do pai quando manobrava sua caminhonete da garagem da família.
Em 2018, PX conheceu o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, com quem passou a ter uma relação próxima. Paulo Xavier também tinha vínculos com a Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial.
Nesse período, Antônio foi procurado pela associação, para resolver pendências comerciais e negociar propriedades. Assim, passou a negociar com a família Name, que se viu em prejuízo financeiro.
Depois, PX teria passado a prestar serviços para o advogado e parou de atender a família Name. Foi então que os líderes decidiram pela morte do policial. No contexto da denúncia, há relato de que a organização criminosa se baseava na confiança e fidelidade. Por isso, o abandono ao grupo foi malvisto.
Matheus foi assassinado a tiros de fuzil na noite do dia 9 de abril de 2019. O pai ainda tentou socorrer o filho, mas o estudante já chegou sem vida ao hospital.
A morte do estudante acabou desencadeando várias fases da Operação Omertà. Posteriormente, acabou descoberta a organização criminosa de execuções.
Fases da Omertà
Após a morte de Matheus, o esquema criminoso acabou revelado e resultou em diversas fases da Operação Omertà. Para o MPMS e a Polícia Civil, a família Name era líder do grupo. Na denúncia do caso Matheus, a descrição sobre a família é de que atuava com prática de crimes motivados por questões pessoais e financeiras, com a morte dos rivais. Tudo para garantir a proteção dos negócios da família.
Monitoramento por ‘hacker’
Antes do crime que matou Matheus, Eurico, um ‘hacker’, passou a monitorar Paulo Xavier. No dia do crime, atendendo às determinações dos mandantes, Juanil e Zezinho se armaram com fuzil AK-47 e, em um Onix, seguiram até a casa de PX.
Eles aguardavam a saída do policial na Rua Antônio Vendas, no Jardim Bela Vista, naquele dia 9 de abril de 2019. Porém, o que os pistoleiros não contavam é que, quem saía na caminhonete S10 branca naquele momento era o filho de Paulo Xavier, Matheus Coutinho, estudante de Direito de 20 anos.
Os pistoleiros se aproximaram e atiraram várias vezes contra o motorista da S10. Matheus ainda foi socorrido pelo pai, mas morreu a caminho do hospital. A perícia identificou que Matheus morreu com 7 tiros de fuzil.