O aparelho utilizado para o diagnóstico parece com um bafômetro. O paciente enche o pulmão e dá um sopro. Pela respiração, o aparelho detecta tumores malignos no estômago, até mesmo as lesões iniciais.
“Ele já ficou verde, quer dizer que está tudo bem, que a coleta foi concluída, está bom?”, diz uma enfermeira a um paciente mostrando o monitor do aparelho durante um exame.
Depois de fazer uma endoscopia, o advogado Egberto Hernandes Blanco descobriu um câncer no estômago ainda em estágio inicial. Agora é um dos voluntários.
“Na hora que me perguntaram, eu concordei. Eu acho que é extremamente importante”, conta Egberto.
O equipamento foi desenvolvido pelo instituto de tecnologia de Israel. No Brasil quem participa da pesquisa é o Hospital AC Camargo, em São Paulo, uma das referências no tratamento de câncer no país.
O aparelho analisa uma espécie de rastro químico deixado pelas nossas células no estômago. Elas liberam moléculas que soltam líquidos e gases, chamados de compostos orgânicos voláteis. Comparadas com as células saudáveis, as cancerosas liberam compostos diferentes que são identificados pelo aparelho.
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Os pesquisadores vão acompanhar por seis meses pacientes sem câncer e com câncer de estômago, num total de 300.
“O objetivo é trazer a tecnologia mais perto da população oncológica, hoje, a população que tem câncer, e que precisa de um diagnóstico rápido, preciso e de baixo custo”, afirma Emmanuel Dias Neto, coordenador da pesquisa do Hospital AC Camargo.
Segundo os cientistas, o aparelho tem precisão de cerca de 90% na detecção de tumores de câncer de estômago. E essa descoberta quando feita precocemente faz toda a diferença no tratamento e nas chances de sobrevida do paciente.
Atualmente, no Brasil, o câncer de estômago é o terceiro tipo mais frequente em homens e o quinto entre mulheres. A cada ano cerca de 625 mil casos da doença são descobertos no país.
“A maioria desses tumores são detectados numa forma mais avançada já. Cerca de 80% dos casos acontecem em tumores mais avançados. Tudo o que puder trazer o diagnóstico para uma forma menos avançada do tumor, como por exemplo nessa pesquisa, deve ser investigado e deve ser levado à frente”, relata Felipe Coimbra, cirurgião oncológico.
A próxima etapa do estudo é ainda mais animadora.
“A gente espera expandir para outros tipos de tumores, e com isso definitivamente mudar a história dessa doença que é tão difícil”, acrescenta Emmanuel Dias Neto.