‘Não cabíamos mais’: moradores de ilha no Caribe são ‘expulsos’ por elevação do nível do mar

Redes começaram a aparecer nesta semana nas portas de 300 novas casas construídas em cima de um campo de mandioca na costa do Panamá. As residências serão o novo lar para os moradores da primeira ilha do Caribe a ser evacuada devido ao aumento do nível do mar.

As famílias, indígenas da etnia Guna que vivam na ilha de Gardi Sugdub, no arquipélago de San Blas, transportaram fogões, cilindros de gás, colchões e outros pertences em barcos e caminhões para a nova comunidade de Isberyala.

Ilha de Gardi Sugdub, no arquipélogo de San Blas, no Panamá, que teve de ser parcialmente evacuada por conta do aumento do nível do mar, em junho de 2024. — Foto: Matías Delacroix/ AP

Ilha de Gardi Sugdub, no arquipélogo de San Blas, no Panamá, que teve de ser parcialmente evacuada por conta do aumento do nível do mar, em junho de 2024. — Foto: Matías Delacroix/ AP

Os Gunas de Gardi Sugdub são apenas a primeira de 63 comunidades ao longo das costas do Caribe e do Pacífico do Panamá que autoridades governamentais e cientistas preveem que serão forçados a se mudar devido ao aumento do nível do mar nas próximas décadas.

 

A cada ano, especialmente quando os fortes ventos atingem o mar em novembro e dezembro, a água enche as ruas e entra nas casas. As alterações climáticas não estão apenas provocando a subida do nível do mar, mas também aquecendo os oceanos e, assim, a alimentando tempestades mais fortes.

Os agora ex-moradores da ilha, todos da etnia Guna, rapidamente perceberam algumas diferenças com a terra firme. “Aqui é mais fresco”, disse Augusto Walter, 73 anos, pendurando a rede na quarta-feira na arrumada casa de dois quartos com quintal. “Lá (na ilha) a essa hora do dia está um forno”.

Ele estava esperando a esposa, que havia ficado mais um pouco na ilha, para preparar a comida. Eles dividirão a casa construída pelo governo com outros três membros da família.

maioria das famílias de Gardi Sugdub se mudou ao longo desta semana ou estão em processo de mudança, mas as ruas recém-pavimentadas e pintadas de sua nova moradia, a localidade de Isberyala, ainda estavam praticamente vazias.

Bairro construído por governo panamenho na parte continental do país para receber moradores de ilha que tiveram de ser realocados por conta do aquecimento global, em junho de 2024. — Foto: Matías Delacroix/ AP

Bairro construído por governo panamenho na parte continental do país para receber moradores de ilha que tiveram de ser realocados por conta do aquecimento global, em junho de 2024. — Foto: Matías Delacroix/ AP

Sete ou oito famílias, totalizando cerca de 200 pessoas, optaram por ficar por enquanto — a retirada não foi obrigatória. Mas, para permanecer na ilha, alguns tiveram de construir casa novas com dois andares.

Entre os que ficaram está o mecânico de barcos Augencio Arango, de 49 anos. “Prefiro estar aqui (na ilha), é mais relaxante”, disse Arango. Sua mãe, irmão e avó mudaram-se para Isberyala.

“Honestamente, não sei por que as pessoas querem morar lá”, disse ele. “É como morar na cidade, trancado e não dá para sair, e as casas são pequenas.”

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