Entre os internados com Covid-19 no Rio, 90% não têm o esquema vacinal completo, e cerca de 40% não tomaram dose alguma

RIO — A variante Ômicron, que se espalha como um rastilho, não explodiu nos hospitais, de acordo com os números disponíveis até agora. Um dos motivos, dizem autoridades e especialistas, é a vacinação, principal bloqueio contra a cepa. Mas a doença acaba encontrando uma brecha entre aqueles que não estão indo aos postos. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, 90,7% dos internados na rede SUS da capital não estão com o esquema vacinal completo (incluindo o reforço), e 38% sequer tomaram a primeira dose.

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Apesar de não ser considerada uma variante agressiva, o número de hospitalizados na cidade vem crescendo dia a dia. Ontem, eram 170 internados, 31% a mais que no dia anterior. O aumento é ainda maior se comparado ao dia 24 de dezembro, quando apenas 11 leitos estavam ocupados. Enquanto isso, os casos chegam a patamares jamais registrados na pandemia: nesta terça-feira, foram 10.489 diagnósticos registrados no estado. Na capital, entraram no sistema 9.315, o maior número desde a chegada do coronavírus ao Rio.

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Diego Xavier, epidemiologista e pesquisador do Monitora Covid-19 da Fiocruz, destaca que houve um descolamento da curva de internação em relação à de casos. Segundo ele, o número de óbitos e casos graves não acompanhou a explosão de infectados:

— Mesmo os caso que estão internando, tudo indica que não evoluem para pneumonia, como na Delta. Tem a vacina funcionando e, muito provavelmente, sem ela, estaríamos com muito mais casos graves. Não temos o volume de óbitos que vimos no começo do ano passado. Mas há uma relação matemática: cem mil casos com 10% de internação é o mesmo número de um milhão de casos com 1% de internação.

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Trinta mil sem vacina

É esse avanço meteórico de casos que preocupa os gestores da Saúde, apesar de a capital já ter 81% da população total com duas doses e 28% com o reforço na imunização. Isso porque ainda há 30 mil moradores da cidade do Rio sem sequer uma dose da proteção contra a Covid-19. Metade deles é de jovens de 12 a 17 anos. Enquanto isso, estudos mostram que a Ômicron só consegue ser abatida com o reforço. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse nesta terça-feira que 742 mil já deveriam ter tomado a terceira dose na capital. Desse grupo, fazem parte quase 200 mil idosos, que são considerados integrantes do grupo de risco.

— Precisamos que as pessoas façam o reforço para mantê-las protegidas. Vemos nos postos muitas pessoas chegando e relatando ter esquecido a data ou que se confundiram com a redução do intervalo (de cinco para quatro meses). A Ômicron se comporta de forma muito diferente entre os vacinados e os não vacinados. Nos vacinados, por exemplo, não vemos tanto comprometimento pulmonar, mas, sim, sintomas nas vias áreas superiores, como dor de garganta, dor de cabeça e congestão nasal — explicou Soranz.

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Depois de semanas de calmaria, a rede pública de saúde voltou a ter pacientes com Covid na fila de espera por leito. Por volta das 17h desta terça-feira, havia 54 pessoas aguardando internação. E o painel Censo Hospitalar da prefeitura do Rio indicava haver apenas 38 leitos livres. Por causa disso, a Secretaria municipal de Saúde reabriu 50 vagas no Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, que desde novembro não tratava mais infectados com coronavírus. A unidade foi exclusiva para o tratamento de Covid-19 até outubro de 2021. Com a redução de casos na cidade, foi totalmente convertida para outras especialidades em 15 de novembro. Desde então, os casos de coronavírus foram concentrados no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

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Os postos de vacinação na capital têm registrado um movimento intenso, mas abaixo da capacidade de até 120 mil atendimentos por dia. Anteontem, foram feitas 61.542 aplicações. Dessas, 1.227 foram de primeira dose. A maior parte foi de reforço: 53.698. Na Clínica da Família Manoel José Ferreira, no Catete, a fila estava grande. Faltando 12 dias para tomar a terceira dose, a comerciante Maria Elena Leite, de 56 anos, tentou se imunizar, mas sem sucesso:

— Eu fiquei atenta aos três meses, mas não sabia que não estava na hora ainda. Vim na esperança. A gente precisa fazer a nossa parte. É a nossa saúde.

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Carnaval e volta às aulas

Em meio a essa nova onda, o Comitê Científico da prefeitura se reúne hoje para discutir, principalmente, o carnaval. Os especialistas que assessoram o prefeito Eduardo Paes podem orientar pelo adiamento dos desfiles na Marquês de Sapucaí. Uma parte acredita, no entanto, que a curva da doença poderá descer mais à frente, permitindo, assim, a liberação da festa no Sambódromo. O carnaval de rua nos moldes conhecidos já foi cancelado. Outro assunto em pauta será a volta às aulas. Será discutida uma proposta para adiar em até um mês o retorno dos alunos às escolas do município.

Pela primeira vez, o encontro será 100% on-line e deve durar toda a manhã. Os integrantes do comitê vão discutir a proposta do retorno do uso obrigatório de máscaras ao ar livre para tentar frear a transmissão da Ômicron, além de estender a exigência do passaporte da vacina para outros espaços.

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